Amo minha nova casa, mas não significa que esqueci a antiga
Sinto falta de quem morava lá comigo.
“Eu sinto falta das pessoas entenderem quem eu sou”
“Precisar contextualizar as pessoas de toda minha vida e ser contextualizada de toda a vida das pessoas, só pra entender o ponto de vista delas sobre alguma coisa é cansativo pra caralho”
Conversando com minha melhor amiga semana passada, soltamos essas duas frases. Estava pensando bastante nelas hoje, sobre como a gente se acostuma com jeitos, com pensamentos e só percebemos quando começamos a conviver com pessoas que pensam diferente.
Nesse sentido, mudanças de ambiente são ótimas, novos pontos de vista, novos jeitos de fazer as coisas, novas manias, mas ninguém ninguém me avisou que eu ia sentir falta da compreensão. Tentar entender o ponto de vista da pessoa a partir das vivências dela, antes de julgar, é um grande exercício.
As vezes sinto falta, sinto falta de algo que não sei o que é, porém sei que das vezes que eu digo que quero voltar no tempo pra viver tudo de novo é só esse saudosismo dentro de mim falando mais alto. Aos poucos, aprendo a amar esse lugar. Amar as pessoas foi fácil, o que já facilita o resto.
“te amo, malu”
Essa frase se tornou recorrente e eu amo isso, gosto do jeito que, mesmo mais cansativa, minha vida parece mais amorosa.

Saio do carro rindo e ao pisar na antiga escola a sensação é estranha: não sinto nada. Sinto vazio. Sinto estranho. Sinto distante mesmo estando ali. O motivo é simples: eu estou voltando a um cenário antigo que não pertenço mais.
Mais alguns passos e chegamos ao ginásio, a escola é reformada, o pátio tem bancos novos e o segundo andar tem mais salas, mas as arquibancadas e a quadra parecem as mesmas desde que pisei aqui a última vez. Com exceção que faltam alguns rostos.
Ao mesmo tempo que todos parecem familiares, não reconheço ninguém. Cumprimento pessoas que não costumava conversar diariamente e me sinto quase desconfortável na presença de quem eu chamava de amigo(a).
Grito na torcida e rio de como esse lugar muda mas mantém sua essência. Penso em todos os alunos que já passaram por aqui e voltam sempre que podem. Penso nos que mantém a maior distância possível. Incrível como um só lugar pode significar tanta coisa.
Também converso com alguns funcionários do escola: a coordenadora que a gente chamava de mãe parece feliz em nos ver, o zelador me chama pelo nome e a tia da cantina me abraça e me pergunta sobre minha nova escola. (é bonito pensar que eles me viram crescer)
Logo avistamos nossa criatura favorita desse folclore: nosso ex-professor de educação física! O medo que eu tinha dele quando pequena nem se compara ao alívio que eu sinto ao ver ele agora.
Confesso pra ele que odeio meu novo professor dessa matéria e ele parece surpreso, mas essa reação só aumenta quando ele descobre que minha melhor amiga entrou pro time de vôlei da sua escola. Depois, ri da minha cara. Brinco com ele que ele deveria se mudar pra minha escola e ele, por um segundo, considera a opção. Ele diz que eu faço falta na escola, rio: A escola também faz falta em mim.
Depois de chegar em casa, refletindo, fico feliz de saber que não fui esquecida, mas fico feliz em pisar na escola no dia seguinte.
“me senti mais acolhida por quem me sentia distante do que daqueles que eu era próxima”
“não sinto que pertenço, mas até gostei de visitar”
Gostei de verdade de estar lá, demorei pra amar, mas amei com todo meu coração. E aos poucos, aprendo a amar um novo lugar, aos poucos aprendo a conversar com os professores e a deixar minhas amizades mais íntimas (esses dois últimos tem sido um pouco desafiadores)
O problema não é eu querer tudo isso, o problema é eu querer que convivências que aconteciam há 8 anos sejam tão simples e costumeiras quanto as que acontecem há cinco meses.
No dia seguinte,um pouco após passar minutos reclamando sobre como eu odeio algo insignificante, eu lembro do dia anterior e sorrindo, digo que estou de bom humor, um colega rapidamente responde “imagina se não estivesse” ao mesmo tempo que outra amiga faz um comentário parecido, eu solto uma gargalhada muito sincera, parecia ter saído do fundo da minha alma, quase choro de rir.
No mesmo dia, no ônibus com uma amiga, após conversarmos e rimos muito, bebo água de um jeito estranho pra tentar curar meu soluço, mas ela e eu soltamos a risada ao mesmo tempo e acabo espirrando água em nós duas, choramos de rir e depois percebemos que apenas a gente estava fazendo barulho em todo o ônibus. Ficamos com vergonha, porém felizes
.
Percebi que estou sim criando laços, só preciso ter calma.
“eu tô amando 2025, nunca esteve tão leve”
Beijos, malu.
Senti que esse texto foi um pouco diferente dos últimos, o que acharam? Se identificaram com algo?
que texto surreal de lindo!! continue escrevendo, você sabe fazer isso extremamente bem!
meu Deus eu me identifiquei demais stop