Esse texto foi escrito após uma madrugada de vídeos antigos do Google Fotos, versos de “People You Know”, da Selena Gomez, e reflexões.
Ontem, fiquei até duas da manhã assistindo vídeos de 2020, 21 e 22 no meu Google Fotos. Tinha entrado no aplicativo só pra ver se encontrava algum print de algo que eu assistia no ano da pandemia, já que minha memória desse tempo é totalmente falhada. Mas, depois de ver fotos dessa época, continuei vendo, então, percebi que tinha ficado horas vendo lembranças congeladas em fotos de uma versão de mim que eu nem sei se existe mais.
Acho que já falei aqui que eu estudei na mesma escola desde o segundo ano do fundamental e que só sai esse ano, que vou pro primeiro do médio. Logo, é bem fácil prever que eu passei por vários grupinhos de amizade e assim como toda criança, nem todos eles eram exatamente saudáveis.
Mas hoje, venho falar de um em especifico que marcou de quase toda forma imaginável.
Aos onze anos, eu era o tipo de garota que só quer ser incluída e ter seu grupo de amigas. Talvez pelos exemplos que eu tinha em casa, eu achava que algumas das minhas amizades iam ser reciprocas e quase eternas, por isso, hoje, percebo ignorei alguns sinais de que eu não era tão bem vinda só pra adiar o fim de uma amizade.(Quem nunca?)
E por todo esse desejo de pertencimento, lembro que fiquei muito feliz quando uma colega, depois de passar um pouco da noite em “call” comigo e com mais alguns colegas, me colocou em um grupo de WhatsApp que eles já tinham criado.
Eu estava muito feliz por fazer parte de algo, os meus dias eram preenchidos por “bora call hoje?” . Jogávamos Ludo, “eu nunca” e “verdade ou desafio”. E fomos assim por meses. No segundo semestre de 2021, minhas aulas voltaram a ser presenciais, então passávamos as manhãs na escola e a tarde conversando à distância.
O tempo foi passando, encontrei minhas amigas nas férias, fomos ficando cada vez mais próximas, passei a virada de ano conversando com a garota que eu considerava minha melhor amiga. As aulas voltaram em Fevereiro e nossa amizade continuou, éramos um quarteto de meninas e dois garotos.
Em Março, dez dias antes do meu aniversário, eles foram no cinema sem me convidar, eu até podia dizer que se esqueceram ou algo tipo, mas não, eles não tinham feito questão de esconder: um dos garotos tinha feito questão de berrar, em sala de aula, que não me queria lá. Todas as minhas amigas foram no cinema e não se importaram de compartilhar na minha frente como estavam ansiosas e de combinar que roupas usariam.
Chegado o tão temido dia, eu tinha decidido que não ia ficar triste, eu ia ficar feliz porque minhas amigas iam se divertir. (Alguém pode achar isso um gestão lindo, mas eu acho que eu ignorei todos os sinais de que não queriam minha companhia e que fui boazinha demais, até idiota.) Mas foi só olhar o story que uma das minhas “amigas” tinha postado, que comecei a chorar. Chorei a noite toda ouvindo Softcore, não me importava com a tradução, apenas com um verso em especifico. Até algum tempo atrás, não conseguia ouvir essa música sem ter arrepios.
“I can hear the sound of breaking down” ~ Softcore, The Neighbourhood
No entanto, mesmo eles continuando comentando sobre esse dias nas semanas seguintes e mesmo isso tendo realmente me magoado, eu continuei amiga delas, eu não me importava, eu me agarrei à primeira desculpa esfarrapada que me deram, apenas por que não queria acabar aquela amizade.
No meio do ano, éramos “só” o quarteto de meninas. Continuamos conversando com os meninos, mas como eles tinham adicionado duas meninas, que não gostávamos muito, no grupo, paramos de responder e de entrar nas ligações. Em paralelo a isso, eu e minha “melhor amiga” da época fazíamos call todos os dias.
Até que chegou o mês dos campeonatos escolares. Nós tínhamos nos afastado, mas, por coincidência ou não, todos nós fazíamos parte do time da escola, tanto de futsal, handebol quantos os outros, porque minha escola escolhe sempre os mesmos alunos pra tudo. Então criamos outro grupo, lembro que eu ria bastante com as mensagens, já que todos nós éramos competitivos desde criancinha, mas nunca tínhamos representado a escola, então estávamos bem nervosos e felizes. O colégio participava de dois campeonatos: o municipal e o luterano, esse ultimo que estávamos nos tremendo porque jogam escolas do Uruguai e da Argentina.
Arrisco dizer que esse ano foi o que teve os campeonatos mais felizes, por mais que tenhamos ficado em segundo no municipal, o time feminino foi campeão do handebol, nenhuma de nós esperava isso, mas ganhamos a final de 10 x 0. Foi um dia muito feliz, gritamos “é campeão” até ficar sem voz, mas nada dura para sempre
Então, vamos pular 2023, e ir direto pra 2024: Já não falava mais com os meninos e nem era mais amiga de uma das garotas do falecido grupinho, tínhamos sido um trio por um tempo, mas logo fiquei muito próxima de uma menina que se tornaria minha melhor amiga (Não se sintam culpadas se ao ouvir a palavra “trio” vocês pensaram “sempre tem uma dupla no trio”, no meu caso, vocês estariam mais do que certas, e adivinha que era a excluída??? Isso mesmo, euzinha kk)
Minha amizade com as duas meninas que sobraram do antigo grupo nunca ficou muito melhor desde 2022, nos chamávamos de melhores amigas, mas já não me identificava com elas, sentia que só éramos amigas porque ficamos acomodadas, a questão é: eu, até boa parte e 2024 me sentia amiga elas ainda, mesmo com tudo aquilo que tinha acontecido anos atrás e as algumas vezes que elas ignoraram o que eu sentia e vice-versa, porque eu fui vitima, mas também não sou santa, no entanto, ainda dava pra considerar uma amizade.
Até que em Outubro, minha ficha de que não fazia mais sentido ser amiga delas foi caindo aos poucos, mas no dia do Campeonato Luterano foi o pontapé pra eu começar a pensar seriamente nisso.
No dia dos jogos, a outra amiga que fazia parte do quarteto e era a minha mais próxima, não foi, porque não fazia parte do time. De todas as meninas ali, elas eram as duas únicas que eu era amiga e no intervalo entre os jogos, uma delas chamava a outra pra encher a garrafa ou sair de perto do grupo e quando eu fazia menção de ir junto, elas reclamavam ou mandavam eu parar de segui-las. E, dessa vez, não importa o quanto eu tenha gritado “É tricampeão”, o dia tinha sido péssimo e isso me fez pensar bastante.
Até que ponto aguentamos uma relação desgastada só pelas memórias felizes que já tivemos com aquela pessoa? Eu sinceramente, não sei a resposta.
No fim do ano, eu não queria mais ser amiga delas, isso foi um choque pra mim mesma, porque até então, eu tinha feito de tudo pra aquela amizade não acabar, aí, eu percebi, não eram só elas que tinham mudado, todos nós tinham, inclusive eu. Isso me fez começar a pensar onde estavam as pessoas que eu já fui amiga um dia. Depois de pensar um pouco, percebi que já não (re)conhecia a maioria.
Os meninos que eu citei, hoje em dia, xingam garotas de tudo que é nome depois de beija-las, dizem coisas como “não fico com menina escurinha”, são os moiores culpados de eu ter medo de falar com meninos da minha idade, entre (muitas) outras coisas. A menina que tinha feito parte do nosso grupinho nos odeia por algum motivo que eu não me lembro ao certo, tentou fazer amizade com outras duas meninas pra tentar fazer elas se afastarem e continua amiga desses dois meninos, mesmo com tudo que eles falam sobre meninas, inclusive dela. Olhando assim, as duas “amigas” me excluindo foi tranquilo, no caso delas, só não faz sentido manter a amizade com pessoas que eu não me identifico
“E o que mais dói é que as pessoas podem passar
De pessoas que você conhece a pessoas que você não reconhece mais”
~People You Know, Selena Gomez
Entendi que, por mais que a essência continue a mesma, pessoas mudam, o que nos resta é aceitar e reavaliar se vale a pena continuar com pessoas que não fazem jus a quem você se tornou.
Beijos, malu.
E vocês, já continuaram uma amizade apenas por conta das memórias? Já se assustaram ao perceber que não reconheciam mais alguém que já foi próxima?
É estranho demais conviver com uma pessoa todos os dias e assistir aos poucos ela mudar completamente. A gente nunca percebe enquanto a gente vive isso, na maioria das vezes a ficha só cai quando a pessoa já não é nem um pouco a mesma pessoa que você conheceu mas você tem medo de se afastar por ainda estar presa na versão dela que não existe mais. Memórias antigas são doces mas não vale a pena se apoiar nelas se as novas também não são. Eu amei seu texto amiga!! Sua escrita é maravilhosa e me prende sempre!!
Sou uma garota que viajou muito, sempre mudando de endereço e sinto que isso ainda pode acontecer a qualquer momento. Então , sei bem oque é passar por grupos de amizades e as vezes olhar para eles e pensar... Será que sem mim a amizade continuaria ? Será que esses grupos pelos quais passei seriam amigos entre si ?Não sei as respostas e talvez eu nem devesse viajar tanto nisso. Mas são essas simples coisas , que nos marcam como casa que podem ser reforço ou um trauma gerado em consequência. Obrigada por essa pauta , acho que eu precisava dar um volta pelo passado novamente.