Eu nunca lidei bem com mudanças
e por uma ironia do destino, isso parece estar mudando também.
Um texto sobre o fim de ciclos e sobre expectativas.
Eu sempre odiei mudar, me lembro que quando eu descobri no fim do primeiro ano do fundamental, que iria ir para outra escola no próximo ano, eu chorei. Naquele choro, tinha muito medo: medo de não fazer amigos, medo de não gostarem de mim, medo do desconhecido.
Não vou mentir, o primeiro ano na escola nova foi bem ruim, eu mudei de escola junto com mais três amigas e meus pais já eram amigos dos pais de algumas das crianças da escola nova (cidade pequena que fala), mas isso não ajudou muito, eu era tímida e demorei pra me enturmar na mesma medida que as crianças de lá demoraram pra gostar minimamente de mim e parar de tentar me excluir. Com o tempo, isso mudou.
Com o passar dos anos, comecei a gostar cada vez mais dessa escola, ia fazendo amizades, ia criando um certo amor por aquele ambiente. Ia ficando cada vez mais apegada. Quanto mais eu gostava, mais eu me preocupava com o fim.

Precisei enfrentar mudanças dentro dessa escola também, das mais pequenas até as maiores: trocaram de espelho de classe, professores saíram, alunos novos entraram na turma, começamos a estudar de manhã, entre outros, mas nenhuma mudança iria ser tão grande como a que eu ia precisar lidar, mais cedo ou mais tarde: sair daquela escola.
Desde o sétimo ano, eu já me preocupava com ter que sair daquela escola, afinal, lá tinha se tornado meu abrigo, tinha professores que eu gostava muito, tinha minhas amigas, eu sentia que era o lugar perfeito pra mim. Eu tinha tanto medo do fim.
Então, esse ano, estando no nono ano do fundamental e estando decidida a mudar de escola, não importa o desconforto que isso causasse, eu aproveitei o máximo que pude, porque eu sabia que ia acabar.
Nesses meses, eu chorei muito, mais do que eu deveria e mais do que eu gostaria de admitir. Eu chorava porque não queria dar tchau, mesmo sabendo que era necessário. Eu chorava e sofria com antecedência porque eu sabia que ali tinha sido meu lar por muito tempo, tinham, ali, professores que me deram mais conselhos para minha vida pessoal do que boa parte da minha família, eu ia precisar me despedir de tanta gente importante, de tanto ligar marcante.

Então, no segundo semestre, surgiu uma oportunidade que eu torcia pra acontecer por muito tempo: eu seria oradora da sala. Iria fazer o "discurso de formatura". De repente, um brilho de felicidade em meio a tanta melancolia: eu teria oportunidade de encerrar esse ciclo com chave de ouro.

Então, passei meses pensando frequentemente sobre o discurso, lia, relia e reescrevia, ajeitando tudo. Na tão esperada data, estava tudo do jeito que eu queria, eu e uma colega lemos, nos emocionamos e emocionamos toda a turma junto, até alguns professores.
Esse discurso é provavelmente o texto mais lindo que eu já escrevi e tenho muito orgulho dele.
Então, acabou. Naquela sexta-feira 13 em dezembro, foi dado um ponto final.
Acabou a formatura, acabou a escola, acabou o ano e um pouco antes da formatura, tinha descoberto que tinha passado na prova de seleção que eu fiz pra ir pra outra escola. Meu ensino médio não vai ser na escola que eu estudei mais de metade da minha vida. As coisas iam mudar de novo.
Quer saber uma coisa estranha? Eu não choro pensando sobre isso desde a formatura. Eu até sinto medo, mas ele é inundado pela expectativa.
A expectativa de começar em um lugar novo, com gente nova, um lugar que eu posso ser quem eu sou, um lugar que não vão me julgar por algum erro que eu cometi no sexto ano, porque eles não em conheceram no sexto ano.
Então, eu percebo que talvez as despedidas tenham sido necessárias pra que eu começasse algo novo. O fim é necessário, afinal.
Nesse exato momento, é saudades que eu sinto, sinto saudades de alguns pequenos momentos em que aquela escola me proporcionou uma felicidade absurda e genuína. Mas não é porque sinto saudades de algumas memórias que me arrependo da minha escolha que eu fiz, não.
Posso ter memórias boas lá, mas tive memórias ruins também: não esqueço que me excluíram, não esqueço todo o estresse que passei, não esqueço que tinha pessoas extremamente irritantes que se achavam "donas da razão", mas independentemente, eu amei aquele lugar e isso me dá muita esperança que mesmo que seja difícil no começo, eu vou ser capaz de amar a próxima escola tanto quanto amei a última.
Não acho que vou sentir falta, com certeza vou estranhar a nova escola, vai ser desconfortável no início, mas confio em mim, vou me adaptar. Acho que finalmente entendi que algumas mudanças são necessárias, que chega um momento que coisas precisam acabar, nenhum ciclo pode ser pra sempre, se nem nós, seres humanos, vivemos pra sempre, porque queremos prolongar ao máximo as coisas que vivemos?
Se durasse pra sempre, não seria tão mágico, é o fim que torna certas coisas especiais.
E quem diria, aquela menininha que anos atrás chorou de tristeza porque ia mudar de escola, essa semana quase chorou de felicidade ao se matricular em uma escola nova. As coisas mudam e a gente também.
Estava pensando bastante sobre começar coisas novas e quando li a
e a falando sobre começar o Ensino Médio esse ano, foi o pontapé inicial pra que esse texto saísse, obrigada pela inspiração, meninas!Mas e vocês, como lidavam e lidam com mudanças?
que artigo lindo, amiga !! um relato emocionante, muito tocante e pessoal, eu simplesmente amei !!! estou inscrita ❤️
Ficar feliz pelos momentos bons e usar os ruins como aprendizado. Isso tá incrível amiga!!! tu arrasa!!!