Eu tenho medo de não viver coisas emocionantes o suficiente
porque toda a minha família tem histórias incríveis pra contar
Um texto sobre amor, histórias bonitas e o medo de não viver suficiente.
Uma vez, quando eu era criança, eu estava brincando na pracinha com uma afilhada da minha dinda, e então, não lembro o motivo, ela disse que eu não era afilhada de verdade dos meus tios, lembro que fui correndo perguntar pra minha mãe se aquilo era verdade, e ela respondeu algo como “família não precisa ser de sangue pra ser de verdade.”
Desde antes de aprender a ler, sempre amei livros, eles sempre foram meu porto seguro. Adorava historias de princesas, adorava Turma da Mônica, adorava qualquer livro que tivesse personagens que pertenciam a grupos de amigos. Eu cresci, mas algumas coisas continuam parecidas.
Não lembro a primeira vez que eu li um livro de romance e senti borboletas no estomago, mas sei que isso aconteceu várias vezes desde então. Muitas vezes, me vejo saltitando pela casa porque dos personagens que eu quero que fiquem juntos deram as mãos. Ao mesmo tempo, esse não é o único tipo de amor que eu sou fissurada, amizade é outro tópico muito sensível pra mim.
Nos últimos anos, percebi o quanto eu amo filmes, séries e livros em que alguns personagens formam vínculos tão profundos a ponto de se considerarem família. Foi assim com Velozes e Furiosos, foi assim com Magnum P.I., foi assim com The Mentalist, foi assim com Vingadores e foi assim com todas as histórias que eu li no Wattpad e fiquei obcecada.
Eu queria e quero muito viver isso na vida real: ter um grupo de amigos que são família, ter um marido que me ame intensamente e que no futuro nossos filhos tenham aquele tipo de amizade que “não somos primos, mas nossos pais são tão amigos que fomos criados quase como irmãos”. Então, me dei conta de que meu pai viveu algo muito parecido.
Meu pai e o melhor amigo dele se conhecem desde a pré-adolescência, estudaram e aprontaram juntos: o grupo de amigos deles era o terror dos professores, sei que meu pai chegou até a ser expulso de uma das escolas que estudou (ou, como ele prefere, foi “convidado a se retirar”).
Boa parte desse grupo de amigos é amiga até hoje, no fim do ano passado, fomos em um casamento de um desses amigos: a mulher que casava com ele era a irmã mais nova do menino que era melhor amigo dele no colégio. No texto que o cerimonialista leu, tinha uma parte que falava que o noivo tinha feito parte de um grupo de vizinhos que tocavam o terror na rua que moravam. Nesse mesmo casamento, um dos padrinhos foi o filho de um desses vizinhos, com quem o noivo mantém amizade até hoje.
Amor pra mim, sempre foi sinônimo de segurança e proteção, principalmente quando falamos da minha família. Pra mim, amor é meu avô ter assumido as tarefas de casa quando minha avó deixou de poder faze-las, amor é minha mãe ter desistido de casar com outro homem porque sabia que o amor da vida dela era meu pai, amor é meu dindo dizer que quando eu estiver apaixonada, ele irá fazer o papel dele de dindo e conversar comigo, amor é esse mesmo dindo e a mulher dele, minha dinda, terem ligado em chamada de vídeo para meus pais no dia do casamento deles, em pleno 2009, porque estavam do outro lado do globo e não iam conseguir vir, amor é o fato de que ter eles por perto é uma das razões pelas quais eu sinto falta de ser criança, amor é a mãe do melhor amigo de infância do meu pai fazer bolachas de natal e mandar uma parte delas pra ele, amor é eles serem as únicas pessoas por quem eu já chorei de tanta saudades.
Na minha visão, amor pode ser romance, mas amizade também é amor.
Talvez agora eu tenha conseguido explicar porque às vezes eu penso que meus pais e os amigos deles são personagens principais de algum livro por aí. O problema é: se eu vejo meus pais como personagens principais, acabo vendo a mim mesma como “a filha dos protagonistas” e ocupar esse lugar não é nada interessante, o máximo de protagonismo que eu ganho é um spin-off.
Eu quero ser a protagonista da minha vida, eu também quero ter historias marcantes pra contar pros meus filhos e ás vezes, tenho medo disso não acontecer, tenho medo da minha vida ser um eterno “na minha idade, a vida dos meus pais era mais interessante”.
Então, escrevendo, acabo de perceber: eu estou tentando escrever minha história num lugar que já está ocupado. Se eu quero escrever minha própria história, ela precisa estar escrita no livro da minha vida. No livro da vida dos meus pais, eu vou participar, mas vou ser só a filha deles, porque é esse o papel que eu interpreto na vida deles.
Talvez esteja na hora de escrever minhas próprias histórias. De viver minha própria vida.
Esse foi dedicado àquelas garotas que sempre ouviram “seus pais são muito mais legais que você” vocês não são chatas <3
EU SEMPRE SENTI ISSO, essa paixão pela amizade e o medo de não ter uma vida legal meudeus
viva o amor, seja ele romântico ou não!!🙏🤍
Que texto <3, eu tenho um pouco disso com meu pai. Ele era o tipico bonitão inconsequênte da fámilia que viveu "altas" aventuras e vive com as consequências, em paralelo eu fui criada meio trancada ao contrário dele, sendo filha dele puxei um pouco de rebeldia e adrenalina que ele tem e por um tempo me comparei com ele por ter os mesmos anseios e não poder ter as minhas "aventuras". Mas precisamos por na cabeça, vamos escrever nossas histórias como protagonistas!