Um texto que foi efeito colateral de reparar demais nas linhas de expressão no rosto da minha mãe e dos fios brancos na barba do meu pai. Um texto sobre como ver gente envelhecendo me afeta.
Dias atrás, eu estava procurando fotos minhas de criança, mais especificamente, fotos em que eu estivesse junto com meus pais e/ou meus dindos. Tive um leve choque de realidade ao perceber que de 2012 até 2025 eles ganharam alguns cabelos brancos e que algumas marcar de expressão estavam mais aparentes. Pode parecer o fato mais óbvio do mundo: se passaram anos, pessoas envelhecem, mas pra mim não, eu não tinha percebido que eles tinham mudado, ou pior, eu não tinha percebido que eles tinham envelhecido. (Falando assim, parece que eles estão idosos, mas nas fotos, meu pai não tinha nem trinta e, atualmente, minha mãe por exemplo, acabou de fazer quarenta e cinco.)
Fiquei surpresa e lá no fundo, senti vontade de chorar. Não me conformo que eles não são pra sempre, não me conformo que eles vão envelhecer, envelhecer, envelhecer até que um dia não estaram mais entre nós.
Hoje, meu avô estava aqui em casa e eu fiquei reparando nas mãos dele. Estão cheias de rugas, e não digo isso de forma ofensiva, apenas um pouco triste, não gosto de pensar que ele está ficando velhinho. Torço muito pra que ele consiga ver eu me formando na mesma escola técnica que ele estudou, ele vai ficar tão feliz. Avós deveriam durar para sempre. Não gosto de pensar que vai chegar um dia que eu vou precisar viver sem eles. Eles vão estar sempre no meu coração e nos meus pensamentos, mas não vai ser o mesmo que ter eles me abraçando ou conversando comigo.
Dias atrás, o enteado do irmão mais novo do melhor amigo do meu pai, ou, o enteado do irmão do meu dindo, comemorou o aniversário no mesmo lugar que eu fiz minha festa de sete anos. E, deixando a nostalgia pra outro texto, isso me afetou. Me afetou porque percebi falta de cabelo e vários fios brancos nas barbas dos homens que estão presentes nas minhas memórias de infância. É estranho pensar que eu não sinto que eles mudaram, mas eles não tem mais 28 anos e estão terminando a faculdade, agora eles tem 40 e todos tem uma família pra sustentar. É esquisito. Sinto falta de ter eles mais presentes e frequentes, embora isso não seja mais tão raro quanto já foi, também está longe de ser frequente.
Não gosto de pensar que eles estão envelhecendo porque é um lembrete de que o tempo é passageiro. O tempo não volta nem para. Ele brinca com nossas memórias, com nossos rostos, com nossa altura e com nossas histórias.
Um dia, minha vó, caminhando comigo, me disse algo sobre não gostar de estar velha. Lembro de vezes que eu, ela e minha prima rimos, enquanto inventávamos vários adjetivos pra não a chamarmos de velha. Vintage, rêtro, antiga. Lembrei também de uma vez que, mesmo sabendo que ela não podia me garantir nada, com lágrimas nos olhos pedi pra que me prometesse que viveria no mínimo até os cem anos. Me encarando com olhos que diziam "não posso prometer isso, filha" ela me prometeu mesmo assim. Com certo humor, respondi pra ela que o único jeito de não envelhecer, era morrer cedo e disse que eu ia querer morrer bem velha. Nós rimos.
Uma parte de mim sente muita dor de pensar que talvez eles nunca me vejam com a cara toda enrugada porque talvez não estaram mais aqui.
Mas, por mais que eu realmente concorde com o que eu disse pra ela, eu também não gosto que ela envelheça. Não gosto que nenhum deles envelheça. Mas, infelizmente, eu não controlo isso.
Não posso querer controlar o tempo, posso chorar porque um dia eles não estaram mais aqui, posso chorar porque não quero que eles envelheçam. Ou, posso tentar aproveitar enquanto eles ainda estão aqui, com a esperança de que isso possa fazer com que doa um pouco menos quando eles se forem. Ou, posso continuar fingindo que isso não me afeta e que não fico triste de perceber que eles estão envelhecendo.
Beijos, malu.
Chorei muito escrevendo esse. Espero que vocês sintam essas palavras. Esperam que vocês vivam muito bem pelo menos até os cem anos.
Sintam-se a vontade pra dizer como se sentiram lendo e o que acharam do texto, espero ter te inspirado ou te ajudado, obrigada por ler!
O que te digo é: você ainda não viu nada! A percepção de nossos pais envelhecendo traz um “incômodo”, mas a verdadeira tristeza quanto a isso se dá quando eles já não dão conta de si.
Aquela pessoa que você conhece e que tomava decisões sobre você poderá precisar de uma fralda, uma pessoa pra faxinar a casa ou fazer comida, um acompanhamento…
Aí sim é triste porque você como filho perde a confiança no julgamento e nas ações de quem você mais confiava nisso no mundo.
Mas faz parte! E há de sermos gratos por tê-los vivos por tanto tempo e compartilhar maturidade, alegrias e tristezas da nossa vida! Abs
mds adorei. penso a mesma coisa. E isso se aplica também a mim mesma ás vezes. Ao mesmo tempo que muito incrível envelhecer e ganhar mais experiências de vida, queria poder não envelhecer. Um pouco triste pensar que não serei para sempre uma jovem cheia de energia. Mas são fases da vida e faz parte não é?